AMA tem pautado, ao longo de 20 anos, a defesa da preservação da memória e da
história do município de Guaíba. Temos uma aprofundada vivência no campo das
relações simbólicas, afetivas e das manifestações concretas da caminhada
política, econômica, socioambiental e cultural de Guaíba. Essas manifestações
se traduzem através da existência do Patrimônio Material e Imaterial de nossa
localidade.
Sabemos do conjunto de documentos históricos que o território municipal abriga na zona
rural e urbana. Conhecemos os atuais conceitos que norteiam a difícil tarefa da
preservação em um mundo regrado pelo consumismo e pelo descartável. A busca da
felicidade, da ostentação e do sucesso a qualquer custo, mesmo que para isso
tenhamos que nos distanciar de nossa essência, a humanidade, reflete um cenário
falido, mas ainda convincente para muitas mentalidades e para as relações
econômicas vigentes. As questões sociais também circulam pelo direito à
história e pela construção da identidade coletiva. Temos que burilar as
sensibilidades e vibrar com os comportamentos que nos religuem à nossa terra,
nossa história e memória.
O tema do Patrimônio Histórico não se trata de mero devaneio pessoal ou de
grupo. O cabedal de conhecimento sobre o assunto está expresso nas Cartas
Patrimoniais – UNESCO e na Constituição Brasileira desde 1937. O direito à
memória e à história coletivas está diretamente relacionado com o dever da
Nação, do Estado e do Município. Ao longo destes últimos 20 anos em Guaíba, temos
visto o desmanche acelerado dos bens de interesse Histórico, Arquitetônico e
Artístico. Os que ainda resistem, possuem como esteio de
apoio a intervenção do IPHAE (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do
Estado), do Ministério Público, da AMA e de alguns indivíduos que se colocam
como sujeitos de sua história e da história coletiva. As gestões municipais não
têm apresentado políticas de governo eficientes e muito menos convincentes.
Os últimos acontecimentos que envolveram a destruição de prédios de valor histórico
e arquitetônico na cidade, mais especificamente na Avenida Sete de Setembro, nos
remetem à constante indagação: O que queremos para Guaíba? Outra pergunta se
faz necessária para dar condução ao debate: Que estratégias utilizaremos para a
preservação de nossa História? A AMA pode responder a esta pergunta dizendo que,
para tanto, precisamos começar dando início urgente ao Inventário Histórico e
Cultural de Guaíba e por em ação o Conselho Municipal de Patrimônio Histórico,
Artístico e Cultural do Município, que não tem sido chamado desde sua reedição
há dois anos.
Os vários eixos que conduzem à preservação ambiental e cultural precisam ser
ordenados e regidos com maestria pelo poder público, porém, concluímos que até
o presente momento Guaíba não teve o prazer de ver a orquestra da preservação
patrimonial fazer seu espetáculo de forma harmônica e consistente. No momento em
que vivemos, nosso município vem
recebendo inúmeros investimentos que estão, de forma muito acelerada,
transformando o cenário urbano, econômico e social de nossa cidade, requerendo
ações imediatas para que não sejamos atropelados pelo desenvolvimento, sem
torná-lo inconsequente, mas harmônico com nossa realidade, características e
história. Para finalizar, citamos a historiadora Sandra Jatahy Pesavento, que
escreve o prefácio do livro intitulado “O Passado no Futuro da Cidade”, de
autoria de Ana Lúcia Meira (2004), grande ativista da área da Cultura no
Brasil:
“(...)Dar a ver o passado de uma cidade é fazê-la ir ao encontro da História, da sua
História, de um caminho percorrido, de uma experiência comum, de um tempo
partilhado. Este tempo a ser lembrado, visualizado, é uma parte da vida da
comunidade que toma espaço na vida de cada cidadão e que o habita para pensar à
frente. Daí porque é possível ver passado e futuro em conjunção, mas para isso,
é preciso saber ver(...).”
Miriam Leão: historiadora e consultora de patrimônio da AMA.
João Bosco Ayala: historiador e coordenador de patrimônio histórico da AMA.